É quase consenso que mulheres trans e travestis passam por momentos em que ‘não se reconhecem no próprio corpo’. A disforia de imagem, ou disforia física em mulheres trans, é um estado de desconforto emocional e psicológico devido a forma corporal e/ou características do próprio corpo.
Esse intenso desconforto, que pode estar presente desde a infância, leva as mulheres trans e travestis a apresentarem uma chance maior de desenvolver transtornos alimentares, além de quadros de depressão, ansiedade, pânico e distorção de imagem corporal.
Para muitas mulheres trans e travestis, passar por transformações no rosto e o corpo pode estar ligado a um importante processo de reconhecimento de si mesma, impactando positivamente na autoestima e na experiência de habitarem o próprio corpo. Esse processo, chamado de feminização, pode ser realizado através de terapia hormonal, procedimentos cirúrgicos, estéticos, dentre outros.
O processo de feminização também pode ser importante para mulheres trans e travestis pois através dele há uma expectativa de melhor aceitação social. Infelizmente, muitas mulheres trans e travestis sofrem por lidar diariamente com olhares preconceituosos, agressões físicas e verbais por não “serem adequadas” ou “suficientemente femininas”, o que desencadeia efeitos psicológicos profundos, que se equiparam a sintomas de trauma.
ALINHANDO EXPECTATIVAS
As cirurgias de afirmação de gênero ou outros procedimentos de feminização podem ser importantes para muitas mulheres e completamente essenciais no processo de transição, mas é importante também entender que, talvez, esses procedimentos não “resolvam” tudo. Ou seja, trabalhar essas expectativas é essencial, além das questões emocionais que inevitavelmente surgem durante esse processo.
Diariamente recebemos uma enxurrada de mensagens sobre como “o corpo feminino deve ser”, e a população trans e travesti, assim como as mulheres cis, estão suscetíveis a essas mensagens, o que pode intensificar a sensação de desconforto e inadequação com o próprio corpo, buscando cada vez mais por ‘soluções’, que dependendo da frequência e intensidade, pode começar a se tornar prejudicial para a saúde física e psíquica.
Por conta disso, o acompanhamento psicológico nos processos de transição ou feminização são essenciais pois tem o poder de mitigar impactos e alinhar expectativas, além de fornecer um espaço de acolhimento, compreensão e fortalecimento.
Em todo caso, é importante lembrar que, independente da forma do corpo, qualquer pessoa tem o direito de viver livre, com respeito e com dignidade, e devemos seguir batalhando por uma sociedade mais justa e segura para mulheres trans e travestis.
Vitória Medeiros
Psicóloga CRP 06/173294
Psicóloga de mulheres, crianças e adolescentes. Terapeuta Cognitivo Comportamental, Afirmativa e Especialista em Transtornos Alimentares.